[LM INDICA #03] Da infância à maturidade, literatura para todas as idades: GENI GUIMARÃES (SP), THALITA REBOUÇAS (RJ), JOUT JOUT (RJ), GABRIELA ABREU (SP) e ELVIRA VIGNA (SP)



A terceira publicação da série Literatura Mútua Indica passeia por leituras para várias fases da vida, da infância à maturidade, livros que retratam buscas, anseios, sonhos e impressões que podem interessar a todos nós.

Da poesia da infância às narrativas possíveis sobre os amores contemporâneos. Elas falam de si, compartilham suas histórias de vida, refletem sobre a própria trajetória, recuperam as adolescentes que foram, reconhecem as que ainda são, leem o mundo e o elaboram sob lentes afetivas, tecem tramas sobre o amor real.

Geni Guimarães (SP), Thalita Rebouças (RJ), Jout Jout (RJ), Gabriela Abreu (SP) e Elvira Vigna (RJ) são as escritoras que o LM Indica a seguir.

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GENI GUIMARÃES (SP)

Uma poetisa a cantar um outro mundo possível. Assim é a Geni menina que conhecemos em A Cor da Ternura (FTD, 1998) livro autobiográfico que retrata a história de vida da escritora paulista Geni Guimarães da infância à vida adulta.

A história é ambientada em uma fazenda no interior de São Paulo, onde Geni vive com a família. Filha de pai lavrador e mãe dona-de-casa, a menina é a caçula que vive uma infância simples, cheia de carinho e atenção, apesar do cenário de exclusão social e desigualdade de classes em que sua família está inserida. Ao longo da história acompanhamos o desenvolvimento da menina aprendendo a lidar com o mundo, da chegada de um novo irmão ao ingresso na escola, a alfabetização, o preconceito, as descobertas, a adolescência, o amadurecimento, os caminhos profissionais e os desafios que jamais parecem cessar.

A grande beleza do livro, que deu a sua autora o Prêmio Jabuti em 1990, mora na delicadíssima narrativa em primeira pessoa com uma prosa poética que não mascara as agruras e o sofrimento, mas os transforma em aprendizado e combustível para uma luta honrada e digna contra todo preconceito. Com A Cor da Ternura, Geni Guimarães entrega um livro de força, fôlego e aguçada sensibilidade, seja ao recuperar com primor as particularidades dos pensamentos infantis quanto ao abordar temas espinhosos como o racismo naturalizado na educação escolar.

O resultado é um livro comovente, poético e absolutamente necessário. E o que é mais importante, baseado em uma história real. Leia resenha completa aqui.

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THALITA REBOUÇAS (RJ)

Uma das autoras brasileiras atualmente mais bem sucedidas no mercado editorial, a jornalista e escritora carioca Thalita Rebouças já publicou 20 títulos ao longo de seus 16 anos de carreira, alcançando a extraordinária marca de 2 milhões de livros vendidos, com direitos vendidos para mais de 20 países, adaptações de suas obras para teatro e cinema. 

Mais do que um fenômeno de vendas, Thalita Rebouças é um exemplo de determinação e amor às letras. Simpaticíssima (e fofa!), nos honrou com sua participação na maratona do Literatura Mútua durante a 10ª FeliS em novembro, com uma conversa muito rica sobre experiências de leitura e escrita.

Seu livro mais recente, Confissões de uma menina excluída, mal amada e (um pouco) dramática (Arqueiro, 2016), conta a história da adolescente Tetê e seus dilemas de menina deslocada, que lida com o bullying e precisa encontrar seu lugar de conforto interior para estar no mundo. A jornada pessoal espirituosa e cheia de romance da personagem dialoga com a perspectiva adolescente de mundo, mas vai além, fala diretamente com aquele lugarzinho adormecido em nós, adultos, sobre quem já fomos, ou ainda somos vez por outra. O texto alinhado à realidade com humor e lucidez, promove empatia e interessa a leitores de todas as idades.

Porque a força da literatura de Rebouças está justamente na voz juvenil evocada em seus livros, não só pelos temas abordados concernentes à adolescência, mas principalmente na luz que lança às questões caras à essa fase da vida com muito respeito. Não é à toa que seus leitores se identificam fortemente com os personagens e que livros da Thalita já foram instrumentos de reaproximação e entendimento familiar em incontáveis lares. E aqui já se tem uma definição ótima de fenômeno literário para a xará que não só defende a leitura como um exercício bacana e enriquecedor, como promove literalmente transformações na vida de seus leitores.

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JOUT JOUT (RJ)

Ela nasceu Julia Tolezano para Niterói, mas foi ao ser apresentada ao mundo pelo youtube como Jout Jout, com suas opiniões sensatas e bem humoradas que a jornalista carioca ganhou visibilidade e viu uma legião de pessoas se unirem a ela em afinidades, mobilizações pela desnaturalização de violências e o desejo de lidar com a vida de forma mais leve, igualitária e justa.

Em Tá todo mundo mal - O livro das crises (Companhia das Letras, 2016) Jout Jout percorre com graciosa habilidade uma série de crises inerentes à vida para mostrar que não tá fácil para ninguém, que a vida é um campo de batalhas pessoais e intransferíveis, mas que quase tudo pode ser superado e amadurecido ao longo do tempo - e com algumas sessões de terapia, obviamente.

Longe de ser uma autobiografia do gênero "como venci na vida", Tá todo mundo mal é um criativo tratado sobre como cada um de nós lida com desafios e encara as escolhas que tem que fazer diante das mais variadas situações, das mais íntimas e existenciais às mais corriqueiras. Com o humor e a inteligência que é marca da sua voz no canal Jout Jout Prazer, Júlia Tolezano nos entrega crônicas inéditas sobre puberdade, paixões, liberdade, estética, talento, amizade, relacionamentos, críticas e mais uma série de temas inusitados que só Jout Jout sabe cavar do cotidiano para nos mostrar quão semelhantes somos nós, seres humanos.

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GABRIELA ABREU (SP)

A jornalista e poetisa paulista Gabriela Abreu percorreu um caminho de bastante privacidade com as letras antes de tornar seus escritos públicos. Foi sentindo a vida nota por nota, nuance por nuance que se deparou com a necessidade de transbordar. Primeiro em um caderno de folhas azuis muito pessoal. Depois no blog Meu Caderno Azul, onde a jovem paulista passou a compartilhar o que escrevia. Até chegar às mãos do público leitor na forma de um livro homônimo, publicado em março de 2015 graças a um financiamento coletivo bem sucedido, para não escapar à tendência atual de promover projetos culturais com o apoio do público.

Meu Caderno Azul (Scortecci, 2015) apresenta 56 poemas divididos em quatro partes - "Aqui dentro", "Por aí", "Lá fora" e "Depois daqui" - que compõem um panorama lúcido, poético e comovente sobre o nosso tempo sob as lentes da autora. A poesia de Gabriela Abreu encontra força na intensidade com que a moça se permite viver-sentir. Ao não caber mais em si, Gabriela se liga ao outro por uma das vias mais bonitas que há: a da poesia. Seus versos produzem carinho e transcendem: abordam com sensibilidade e firmeza temas que vão da mais singela busca por amor ao noticiário indigesto dos nossos dias. Nas suas modestas 79 páginas, Meu Caderno Azul esmiúça belezas miúdas, reflete sobre processo criativo, recusa a mediocridade, louva a alma sensível, poetiza a tomada de Brasília por manifestantes, chora pitangas, permite-se ser e sentir sem fechar os olhos para realidade dura da violência urbana ou do momento político no país. Com uma linguagem concisa e certeira, Gabriela expurga angústias, apalpa anseios, dialoga com seu mundo interno e toda a exterioridade que apreende, do alto das suas duas décadas de vida. Jornalista, consegue com inteligência manter sua poesia atenta ao mundo ao seu redor em um exercício cotidiano de interagir com a realidade para aprender mais sobre tudo.

Confira aqui entrevista concedida pela Gabriela Abreu ao Ensaios em Foco em 2015.

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ELVIRA VIGNA (SP)

Uma das autoras mais maduras da atualidade, a carioca radicada em São Paulo Elvira Vigna é dona de uma voz narrativa muito particular, com frases curtas e pausas que unem com habilidade fluxo de pensamento e narração em primeira pessoa. 

No romance O que deu para fazer em matéria de história de amor (Companhia das Letras, 2012), Vigna nos entrega o caminho feito pela narradora ao reconstituir uma história de amor a partir de dados do passado que não se encaixam em romances tradicionais. Mas quem disse que só de romances “felizes para sempre navegando em mar de rosas” vivem as legítimas histórias de amor? A narrativa da tentativa reflete sobre o amor contemporâneo desvinculado de rótulos e instituições, que acontece através de encontros e vontades, intencionalidades e eventualidades. O que não exime seus protagonistas das dores, dúvidas e insatisfações dentro do relacionamento existente. Seja ele um simulacro de relação ou uma trajetória de afetos fragmentados, que quando revisitados revelam a história possível do título.

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