Sobre o livro "A Centelha de Eros" de Felipe Castro


Da fagulha que acende belezas no coração de quem lê

Por Talita Guimarães

Há diálogo e poesia na forma como o escritor maranhense Felipe Sampaio Castro da Costa (Caxias-MA, 1991) se comunica através dos versos de seu livro de estreia A Centelha de Eros (2016). Diálogo pela forma como o poeta nos acerta em cheio com o que nos diz, suscitando que nos comuniquemos, seja ao fazer notas nas bordas das páginas ou procurando o autor para trocar ideias presenciais.

A incontestável poesia que transborda de suas linhas está contida no olhar cuidadoso e atento lançado ao mundo, tanto o exterior que o rodeia quanto o interior que o preenche.

Convicto de sua missão como poeta, Felipe declara de cara logo nas primeiras páginas de seu livro que a “única função do Poeta é acender a fagulha da percepção, de modo que brilhe, em todos, a centelha da Criação.”. Afirmação carregada de responsabilidade que pode injetar certa desconfiança em quem o lê pela primeira vez, ainda desconhecedor de seu potencial.

        Qualquer pé atrás com o autor estreante, contudo, começa a desvanecer páginas depois com a epígrafe “eu sou a véspera do sentido”, que antecipa de modo singelo e certeiro o que vem a seguir: um soprar de fagulhas que acendem belezas sobre a luz da criação, a admiração filosófica com o mundo, o interesse pela experiência de amar, o diálogo com o tempo presente e real, o encontro com a inspiração em comum à sua geração (vide “Ciranda Telúrica”, p.27) e a busca por tudo que encante e alimente a alma desperta do poeta, que vale ressaltar não é tão estreante assim, compositor já conhecido nosso de versos perspicazes como os da canção “Tevê” (Giovanne Chaves/Felipe Sampaio/Hugo Rodríguez) lá do disco dos Telúricos.

A escrita do jovem Felipe é de um rebuscamento incomum para os pares de sua geração literária, porém guarda um refinamento da tradição com as letras que felizmente não prioriza palavras difíceis em detrimento do sentido. Pelo contrário, sofistica o sentir ao vesti-lo com requinte. O resultado é belo e aceitável do ponto de vista da acessibilidade do texto. Porque há em Felipe Castro um desejo sincero em tocar o outro com efeito, cuja sua poesia de ourives cumpre com louvor.

Destaque para os versos de “Amanhã será um novo dia” (p.47-54) quando o poeta sentencia “... perdoar é apenas assoprar de lado” (p.50) ou anuncia “Aquele que crê dar o passo preciso/ É quem mais precisa de ouvidos” (p. 51). Há mais bem-querer pelo estar no mundo em “Preciso tocar antes de transcender: A realidade abre portas para a fantasia” (“Ofício”, p.58) ou nítida sensibilidade sobre o fazer poético quando afirma “Estou poeta, porque passageiro/ Intermitente/ porque sou rio e preciso de água da chuva/ Sou tudo o que posso ser e sentir agora,/ Por isso, estou” (“Recado dado”, p. 69). Na bordinha, cantarolo à lápis em resposta versos do Pitanga em Pé de Amora que me vem para a ocasião: “És rio enquanto eu folha seca a deslizar por ti” e muito bem se adequam à relação do leitor com a obra.

Aliás, meu exemplar, adquirido via escambo literário com o autor que tive o prazer de conhecer na Noite Recorte! realizada pelo Sebo no Chão em abril, está tomado de notas e marcações. Curiosamente, muito do que é dito em A Centelha de Eros dialoga com o que digo em Recorte! (2015), encontrando meu livro um irmão literário no livro de poemas de meu contemporâneo. Quando Felipe diz “A luz me atravessa” em “Caçada” (p.65), por exemplo, escrevo à lápis ao lado “As marcas todas vazadas”, trecho de meu “As coisas pequeninas são tão belas” presente em Recorte!. Prova irrefutável de um saudável “encontro feliz de intencionalidades”, como o teórico Ciro Marcondes Filho teria definido comunicação.



Para todos que se interessarem em deslizar pela poética de Felipe Castro, basta saber que A Centelha de Eros (2016) chega oficialmente ao público no sábado, 14 de maio, às 17h, na Livraria Themis (Shopping Monumental, Renascença). Ótima oportunidade para abrir a “janela que incita a comunicação entre os seres humanos”, como diria o próprio poeta.

Comentários

Renata Teixeira disse…
O Ensaios em Foco é um perigo! As recomendações desta autora fofa são imperdíveis, então a minha lista de “leituras futuras”se expande cada vez que passo por aqui. Dá vontade de parar tudo e ler o que a Talita indica. A Centelha de Eros entrou oficialmente na fila dos meus desejos!

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