#9FeliS EM FOCO - Diário da Feira do Livro 2015
E a 9ª Feira do Livro segue a todo vapor com uma intensa programação!
Como destaque desta quarta-feira (07/10), indico a sequência abaixo de conversas interessantes:
17h – CAFÉ LITERÁRIO (ODYLO): “Retrato da leitura e cadeia produtiva do livro” com Mary Ferreira e Francilene Cardoso sob mediação de Rita Oliveira;
18h30 – CAFÉ LITERÁRIO (ODYLO): “Nova literatura brasileira: olhares
femininos” com Simone Campos (RJ), Jorgeana Braga (MA) e Micheliny Verunschk
(PE) sob mediação de Andréa Oliveira;
20h – PALESTRA (TEATRO JOÃO DO VALE): “Beat Generation: a influência para além do mito” com Cláudio Willer (SP) sob mediação de Josoaldo Rêgo;
Confira agora como foi a noite de terça-feira (06/10) na #9FeliS.
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#9FeliS - 06.OUT.2015 (TERÇA-FEIRA)
Da relevante discussão sobre reforma política ao exercício da palavra em transe. Foi como quem atravessa uma ponte que liga a realidade à fantasia que transitei da mesa "O nobre deputado e a reforma política" com o escritor Márlon Reis e o jornalista Marcus Saldanha mediados por Hélio Ricardo para a palestra "As cidades como inspiração literária" com o escritor gaúcho João Gilberto Noll, sob mediação de Geraldo Iensen.
As duas mesas-redondas absolutamente distintas, mas indiscutivelmente interessantes foram realizadas na noite de terça-feira (06/10) na 9ª Feira do Livro de São Luís.
Da direita para esquerda: Márlon Reis, Hélio Ricardo e Marcus Saldanha |
O mediador Hélio Ricardo prosseguiu apresentando os debatedores e recuperou o contexto político das manifestações de 2013, que segundo ele demarcaram um novo momento para a expressão de posicionamentos políticos no país. Em seguida, passou a palavra a Márlon Reis, que comentou o processo de apuração e pesquisa que deram origem ao livro O nobre deputado - Relato chocante (e verdadeiro) de como nasce, cresce e se perpetua um corrupto na política brasileira (LEYA, 2014).
Márlon Reis |
O escritor explicou que o livro nasceu com a proposta de chamar atenção da sociedade para os casos de corrupção e que mesmo sendo uma narrativa ficcional que não identifica nomes políticos, seu conteúdo é totalmente baseado em fatos reais.
Marcus Saldanha |
Com a abertura para os comentários do público, a discussão recebeu novas contribuições levantando questões relacionadas ao gênero, ao papel da mídia na cobertura política, a aplicação das leis e da constituição, entre outros.
Geraldo Iensen apresenta Noll |
Ao tomar assento no Teatro João do Vale enquanto ouvia o início da apresentação sobre a obra do autor convidado, feita pelo mediador Geraldo Iensen, nada antecipava o clima onírico e de profunda imersão no fazer literário a que seríamos submetidos com Noll. O escritor gaúcho, um distinto senhor de 69 anos, observava calmamente a deferência de Iensen ao comentar a delicadeza de seu trabalho, sem sequer levantar suspeitas sobre a conferência que conduziria a seguir.
Escritor João Gilberto Noll (RS) |
Após comentar que gosta de andar a esmo pela cidade, Noll partiu para exemplificar a presença forte das cidades em sua obra. Pegou um livro seu sobre a mesa, disse "Quero repartir com vocês um pouco do meu trabalho" e começou a lê-lo.
Escritor lê trechos de seus livros |
Noll sopra sua voz mansa de olhos fechados |
E quando o assunto é a construção de seus personagens, o escritor sequer hesita. "Escrevo sobre o mesmo homem em todos os livros. Não que haja uma continuidade nos livros. Em um o personagem é ator, no outro um escritor, todos com um traço forte de vagabundo", soltou revelando em seguida que gosta muito de seu personagem, o considera um alter ego muito forte. "Crio ele com muito sacrifício, mas também com gozo. Se não fosse ele, eu certamente estaria morto. Ele me dá o turbilhão", afirmou.
Quando o poeta Celso Borges, presente na plateia, comentou ao microfone do impacto que lhe causou a musicalidade contida na leitura de Noll, o escritor gaúcho falou que a intenção com a leitura em tom de lamento é seguir "uma linha só, sem grandes altos e baixos, porque esse é o esforço que eu faço no fundo. Eu escrevo assim".
Já próximo do fim, para arrematar (e arrebatar), Noll refletiu sobre o sentido de escrever. "Porque tudo podia ser diferente. Tudo podia ser melhor. Escrevo pra mostrar isso. Tudo podia ser mais humano", conclui João Gilberto Noll, fechando um encontro histórico entre escritor, literatura viva e leitores.
Comentários
Eu não conheço o João Gilberto Noll, mas fiquei com visão de uma pessoa muito em paz, que realmente escreve porque a "vida é insuficiente"! Que encanto! Talita eu acho que estou com inveja de você! Que privilégio é participar dessa feira!
A palestra do Márlon foi muito esclarecedora. Recomendo o livro dele, "O nobre deputado". Creio que é uma leitura relevante no contexto atual.
Também ainda não conhecia Noll e foi com espanto que acompanhei-o por essa palestra totalmente surpreendente. Não sei bem se a palavra sobre a figura dele seria paz, por conta do tom bastante angustiado de sua fala, ainda que com uma voz mansa. Desejo estar enganada e que ele seja um homem tranquilo com a própria vida. De todo modo, penso que ele carrega uma grande inquietação com o mal estar do nosso tempo e com a vida que transborda de dentro do ser humano. Deu para perceber pelo longo trecho de cunho existencial do livro que ele leu.
Obrigada por estar acompanhando as postagens! Espero que se sinta participando um pouquinho da FeliS assim.
Abraço!