[RESENHA] No embalo da poesia de “As Valsas Invisíveis”

Poetas impressionam pela capacidade de pôr em palavras aquilo que grande parte das pessoas sentem, mas são incapazes de descrever. Poetas sensibilizam por dizer com sutileza aquilo que nos toca a alma mais profundamente. Algumas pessoas dizem que poetas partem de um incômodo. Outras acreditam que eles escrevem o que sentem ou ainda o que gostariam de sentir.


Difícil definir o que poderia mover um poeta. O que o impulsionaria a poetizar o mundo que o cerca. Antônio Secchin foi feliz ao dizer “toda matéria do mundo alimenta o poeta”. Concordo.E agora penso que o poeta não se move simplesmente. Ele é embalado. E nos embala também.

Isso é o que sente quem conclui a leitura de “As Valsas Invisíveis” do gaúcho Eduardo Trindade. Levemente embalado por poesias que trazem lembranças, observações e sentimentos, o leitor encontra nas valsas do poeta, um pouco de si. É como reunir em um baile, José Chagas, Antoine Saint-Exupery e Geni Guimarães. Só que dessa vez, são nas palavras de Eduardo Trindade que encontramos o que há de melhor em sensibilidade, infância e poesia.

O livro, que reúne 112 poesias e 3 crônicas, é um verdadeiro baile poético. Com uma sensibilidade impecável para enxergar o mundo com os “olhos de dentro” de Geni Guimarães, Eduardo Trindade trata as palavras como bailarinas, que dançam suavemente e de forma sincronizada, formando belos versos delicados, sobre coisas que estão no dia a dia de toda a gente, mas onde poucos conseguem enxergar beleza.

Além de retratar recortes de um cotidiano vivido entre detalhes, o poeta convida o leitor a recordar a infância e ver poesia em coisas mínimas. Ensina que a beleza anda lado a lado com a simplicidade e de mãos dadas indicam a tão buscada felicidade. “Gosto das coisas mínimas. A grandiosidade pode assustar”, diz no poema “Sorrir”.Ou como em “Piscadela” quando baila:

“Um beija-flor voou.
Uma borboleta pousou...
E dentro de uma flor
Uma formiguinha piscou.

Como gosto de ser abraçado

Por estas coisinhas mínimas!”

Mas o baile não para por aí. “As Valsas Invisíveis” canta também o amor. Passado, vivido, presente, a viver. E emociona. De frente com a crônica “Luana Tomasi”, as lágrimas são inevitáveis. Com leveza, o autor nos alerta para a atenção que dispensamos ao instante, tempo que não pode ser medido, mas que sentimos voar, fugir ao controle. É sobre voar também que Eduardo Trindade fala, quando nos conta sobre Luana, que “veio ao mundo no mesmo dia em que se foi dele, como uma avezinha que para por uns instantes no parapeito de nossa janela, canta uma melodia e se vai, voando, para cantar em outra janela.”e continua “Torço para que Luana tenha tido tempo de cantar.”

“As Valsas Invisíveis” é, sem dúvida, o livro bom que você lê e fica com vontade de dar de presente para todos os amigos. Porque é valsa que não pode ser dançada sozinha, dá vontade de compartilhar, convidar todos para o baile. Além do que é mais um livro que entra para lista do “vale a pena ler de novo”. Mais uma vez feito música, que você sempre quer ouvir de novo para dançar um pouco mais.

Precisa dizer mais alguma coisa?

Precisa.

Visitem o blog do autor e se deixem embalar também: http://www.edutrindade.com

Comentários

Gildson Souza disse…
Massa! Deu vontade de ler.
Depois tu empresta, viu?

Tua descrição do livro é encantadora...
Eduardo Trindade disse…
A poesia (como outras formas de arte, aliás) só está completa com a participação de quem lê; é através da visão do leitor, com sua experiência prévia e sua forma de pensar, que a obra se realiza. E, assim como cada rio é sempre um novo rio a passar, nenhuma leitura é igual a outra. Mais ainda: é fantástico encontrar quem vive, com a intensidade devida, cada uma das leituras que os livros e o mundo permitem. Muito obrigado por compartilhar estas valsas comigo e com os leitores do teu blogue! Gestos assim são mais que inestimáveis, são poesia em estado puro.
Abraços, Eduardo.

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